quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Na ARM, a arte é realmente para todos

O artista plástico Rodrigo Mendes começou a pintar aos 19 anos, depois de um acidente que o deixou tetraplégico. A atividade foi tão fundamental para superar suas limitações que ele resolveu dar a outros a mesma possibilidade.

No início, a Associação Rodrigo Mendes (ARM) era inteiramente voltada para deficientes físicos. Mas, depois de Rodrigo e sua mãe, Sonia, tomarem contato com a filosofia de inclusão social da UNESCO, transformou-se em espaço aberto a todos, para que haja convívio entre as diferenças.

A ARM começou no Brooklin, num sobradinho geminado, passou pela Granja Julieta e agora está em casa nova, próxima ao Morumbi. A escola tem transporte próprio, gratuito para os alunos: uma van batizada de Cuca (como na canção infantil, “a Cuca vem pegar”...).


Entrevista com Sonia Maria Hübner Mendes, coordenadora da ARM (2006)


Quando e por que surgiu a Associação Rodrigo Mendes?

Em meados de agosto de 1990, o Rodrigo sofreu um acidente e ficou tetraplégico. Todo o mundo dizia que ele ia ser um vegetal, viver deitado o resto da vida. Como mãe, era doloroso para mim, mas ao mesmo tempo eu tinha que ser forte, porque, senão, como ele iria ficar?

Depois de alguns meses, fomos a uma festa e lá um artista disse que ele poderia pintar com a boca. Era o Luis Carlos, o Luca. O Rodrigo começou a pintar e em setembro de 91 fizemos uma exposição em casa de um amigo. Nesse dia – foi um grande dia, uma noite mágica – ele me disse que queria fundar uma escola. Na época nem pensávamos em Associação. Eu era funcionária pública... Mas achei o máximo. Alugamos uma casa com o dinheiro da exposição. O Rodrigo tinha pintado 60 telas em três meses, vendeu tudo em 40 minutos.


A ARM começou como um curso?

Começou com o nome de Curso Rodrigo Mendes, com 10 alunos. O Luca ficou trabalhando na escola e foi sócio do Rodrigo durante dois anos. Em 1994 fundamos a Associação Rodrigo Mendes.

Nós estivemos em Cuba, o Rodrigo ficou lá trabalhando e fazendo fisioterapia. Quando voltou, fez sua quinta exposição individual. Foi aí que a gente criou a Associação. Percebemos que é difícil trabalhar com deficientes, porque eles têm necessidades especiais. Mesmo os de classe média não tem condições de pagar um curso de arte, porque gastam muito com os tratamentos. Por isso fundamos a Associação, para poder dar oportunidade para essas pessoas.


De onde vieram os primeiros alunos ?

Logo no começo da história o Rodrigo começou a aparecer na televisão e surgiram pessoas que queriam participar do projeto. Nossa idéia não era tratar a deficiência em si, mas dar às pessoas a possibilidade de trabalhar, como o Rodrigo. A Arte deu a ele outra visão, outro jeito de olhar a vida.

De certa forma nós fazemos um tratamento, sim, porque a Arte tem esse efeito terapêutico, mas não é o nosso foco.

Até 1995 só atendíamos deficientes. Mas o aluno vem para este espaço, tudo certinho e bonitinho, depois sai para a rua... e como faz para se integrar? Então, participando de um congresso no Rio de Janeiro sobre Diversidade, entramos em contato com a idéia de Inclusão Social, que já era adotada pela Unesco e é mais do que integração, simplesmente. Na inclusão, os dois lados, a sociedade e o deficiente, trabalham para se integrar.

Essa filosofia é bem perceptível, hoje. Em 95, quando o Rodrigo entrou para a (faculdade) Getulio Vargas, ele teve que se adaptar. Claro que ele contou com ajuda de todos e foi muito bem recebido, fez parte do Conselho da escola... Mas, naquela época, os deficientes tinham muitas dificuldades de acesso. As pessoas diziam: “Nossa, até quando ele vai agüentar?” Na primeira prova ele tirou 10. Agora está terminando o mestrado. Foi uma vitória. O Rodrigo é muito determinado.

Hoje a faculdade é toda adaptada, inclusive no auditório da GV tem uma rampa elétrica que não existia naquela época. Hoje, na GV ou em qualquer lugar, os deficientes têm mais facilidades.


Houve uma evolução na forma como o Brasil trata os deficientes?

Está melhorando, por causa da lei. Existe uma preocupação por parte das empresas, que têm que atender a lei. Isso é uma mudança de cultura. Uma das missões da ARM é promover essa mudança de cultura. O primeiro dificultador é o próprio deficiente. Se ele já nasceu com a deficiência, a família desde de cedo busca uma forma de atender a ele. Mas as pessoas que se tornam deficientes mais tarde têm dificuldade em se aceitar.

Eu não tenho dúvida de que o deficiente, no primeiro momento, tem que ter o apoio de alguém, para ele é uma barra muito grande.



Você acredita que os alunos recebem do Rodrigo uma certa força?

Sim acredito, acredito que é uma força que ele não vê. O Rodrigo ainda brinca, porque a deficiência dele é muito grave. Ele se compara ao Super Homem... (riso) Não é porque sou mãe dele, mas ele está em um outro patamar. Não me considero uma pessoas fraca, mas igual ao Rodrigo... é difícil.


Tem algum aluno daqui que se formou artista profissional?

Temos o Alberto, que manda seus quadros para o Japão, o Wilson e o João Batista.


E qual é o critério para a seleção dos alunos?

Buscamos alunos que tenham o perfil para a atividade artística. Às vezes as pessoas querem um lugar onde o filho tenha uma atividade, identificando-se ou não com ela. Nós buscamos identificação, para que se possa ter um resultado bom para o aluno.

Atendemos instituições como o Cotolengo, na Raposo Tavares, Estrela Nova, Meninos do Morumbi. Temos projetos fechados para atender a um grupo da Fundação Abraghs. Tem uma outra empresa que patrocina outro grupo, os alunos pagam apenas uma taxa. Esses grupos são atendidos também com transporte.


Existe algum projeto para os alunos participarem em atividades fora da Associação ?

Fazemos visitas a museus, teatro, duas vezes por semestre. E existe uma atividade chamada Arte no Muro, que este ano vai acontecer aqui nas proximidades, ainda neste semestre. E há a exposição de fim de ano, além de oficinas. Já atendemos a aproximadamente 700 pessoas.

Vocês seguem algum método para ensinar os conceitos de Arte?

É dificil definir o q é Arte... Mas os alunos têm aulas de História da Arte, aprendem as técnicas. Cada um tira suas conclusões. Existe um trabalho, uma evolução, um processo que é conduzido e os professores vão avaliando. Todos os nossos professores são artistas plásticos. O Alfonso Ballestero, o Arnaldo Bataglini... Alguns alunos têm um desenvolvimento incrível.


O atendimento é individual?

Em geral, o aluno chega com uma idéia do que ele quer fazer. Se não souber, vai experimentando técnicas e depois escolhe um caminho. Depois de algum tempo, ele define seu estilo e o desenvolve, sem deixar de ter contato com outros estilos...


Quais os profissionais que contribuem para o trabalho?

Eu sou pedagoga, o Rodrigo administra. Temos um administrador, empresários, os médicos do Rodrigo, amigos da família e um Conselho, que hoje felizmente é muito participativo. Pessoas ligadas à arte. Também temos professores da FGV e publicitários. Todos são voluntários.



Quais os projetos realizados pela ARM?

Quando começamos, tínhamos vários cursos: bijuteria, artesanato... Tinha teatro, que eu acho fascinante. Mas depois vimos que, para manter a qualidade, precisávamos reduzir o leque. Não tínhamos recursos. Ainda hoje, não temos auxilio do governo, nada. A gente não tem tempo para ir atrás, não temos gente para nos ajudar nesse sentido. Agora estamos tentando obter o título de instituição de utilidade pública.



Vocês conseguiram algum beneficio com a Lei Rouanet?

Sim, tivemos alguns projetos aprovados pela Lei Rouanet.


Como funcionam as parcerias com empresas?

A parceria com a Tilibra, fabricante de cadernos, foi nosso primeiro projeto. Na época, o Rodrigo estava na GV, ele mesmo foi atrás dos donos da empresa. Foi até Bauru, propôs a idéia, um dos diretores gostou... Foi muito legal. Há vários anos nós fornecemos as imagens para as capas dos cadernos da Tilibra, e eles nos pagam 7% do total das vendas. Do que recebemos, 20% vai para o aluno que pintou a obra escolhida.

Cada parceria é diferente. Nós temos um projeto com a Fundação Abadhs, que é de uma família que perdeu a filha, acho que foi um aneurisma. Eles resolveram montar uma instituição para apoiar projetos já existentes. Surgiu o calendário, é legal porque cada instituição tem seus relacionamentos, eles fizeram a base e nós o miolo. O Rodrigo está trabalhando muito com o uso da imagem. A Bauducco fez, no ano passado, cartões de Natal nas caixas de biscoitos. Foi um sucesso, é um projeto que está sendo repetido este ano. Essas parcerias são boas para as empresas, porque dá a elas uma imagem de empresa cidadã, mas não é um patrocínio, é um negócio lucrativo para as duas partes. Nós queremos novas instituições parceiras.


Essa questão de gerar renda é muito importante...

É muito importante, sim, porque gera renda também para o aluno. Nossos alunos são carentes, todos eles. Mas o nosso foco não é gerar renda para os alunos, não prometemos isso. Mesmo porque as obras são escolhidas pelas empresas, nós não interferimos. Nosso foco é no curso em si, que gera um beneficio enorme, uma outra visão de vida, com participação do aluno em uma grande exposição no fim do ano. Este ano vai ser no Sesc Pinheiros. A Associação banca o evento. Recebemos alguma ajuda, mas nunca um patrocínio integral. Hoje temos 100, 170 obras por exposição. Nunca vendemos todas... Só aconteceu isso com a do Rodrigo (risos).



O Rodrigo ter cursado Administração de Empresas ajudou a Associação?

Para ter esse formato, sim. Eu passava muito a minha experiência como educadora em escola da rede pública. E o Rodrigo trouxe essa visão administrativa, que é super importante para a imagem da organização. Eu fiz um curso de capacitação de 2 anos, para entender essa linguagem, porque para mim era complicado. Eu não sabia como captar recursos. A idéia do Rodrigo é de que a Associação chegue a ser auto-sustentável, não sei quando, mas a gente busca isso.


A participação das empresas aumentou?

Aumentou muito com relação a produtos, tem empresa que vêm nos procurar para desenvolvermos um produto. Para a Bauducco, fizemos o cartão por que a empresa teve a idéia. Temos as xícaras, a Hope Cup, o prato das artes...


Quem elabora os produtos?

Temos a Tatiana, que trabalha conosco, e o Rodrigo também trabalha bastante nisso.


Vocês oferecem os projetos ou as empresas os procuram?

Às vezes a gente oferece. A empresa em que o Rodrigo trabalha, a Accenture, tem muitos empresários, e quando fazem reuniões com o Rodrigo, eles vêem o que existe de possibilidade, às vezes se efetiva ou não.



A ARM já ganhou prêmios?

Ah, temos vários prêmios. O Rodrigo já ganhou o de Cidadania Mundial, agora ganhou o iBest de marketing na categoria Responsabilidade Social, ganhou o prêmio FENEAD... Um de qualidade total... Ganhou um prêmio da Hebraica... Nossa, tem muitos prêmios...



Qual a maior dificuldade?

Não sei dizer qual, mas força de vontade e otimismo realmente nunca nos faltaram. Tivemos a sorte de ter o filho que temos. Ele sempre foi muito corajoso e positivo. Acho da máxima importância acreditar. Se você não acredita, isso é o grande dificultador.

domingo, 31 de julho de 2011

TPM



A coisa é assim: as mulheres ficam meio chatas durante três ou quatro dias antes da menstruação, mas depois voltam ao normal e são umas gracinhas, doces e suaves, todo o resto do tempo. Já os homens, como não menstruam nunca, não se livram jamais da tensão.

    É por isso que macho é tão agressivo... Basta comparar a quantidade de homens e de mulheres processados por agressão! Nem precisa ir tão longe: experimente dizer a um barbeiro neurótico em uma briga de trânsito: “Calma.. O senhor está nervoso...”

Mas tudo bem. Afinal, dizem que devemos boa parte do progresso tecnológico às necessidades impostas pelas guerras. E, se dependesse das doces fêmeas, as guerras jamais teriam acontecido. Tudo tem seu lado legalzinho!



segunda-feira, 11 de julho de 2011

SOBRE GLAMOUR, CHARME E QUEJANDOS

Os sinônimos que o Novo Dicionário da Língua Portuguesa de Aurélio Buarque de Hollanda nos dá para charme são modestos: atração, encanto, sedução, simpatia. Convenhamos: nada disso tem as conotações... charmosas... que charme tem. Será que não temos palavra para isso na nossa língua? Ah, sim. Conotações glamurosas (para usar a grafia que aparece no Aurélio. Eu esceveria glamourosas.).

 Mas glâmur (usando a grafia do Aurélio: observem o circunflexo sobre o “a”) é outra palavra estrangeira. Francesa? É o que acreditam 10 entre 10 modetes. Mas não! Um pedantismo às avessas transformou glâmur em glamúr, pronunciada como se fosse, sim, francesa e rimasse com l´amour. Mas glamour é palavra inglesa. De origem escocesa.

Por que será que sua pronúncia se alterou? Ainda há poucos anos todos diziam glâmur: na Sociedade Harmonia de Tênis, em São Paulo, havia anualmente o Baile da Glamour Girl, em que uma moça era escolhida como representante dessa qualidade intraduzível em palavras da nossa língua. Nessa época, ninguém dizia “glamúr”, como dizem hoje os estilistas e os pretensos grã-finos, fazendo biquinho.

Será que não temos, mesmo, palavra nenhuma que expresse “o charme e o veneno da mulher brasileira”? Há cinquenta anos, diriam que ela tinha it. Outra palavra inglesa. Parece que não temos, mesmo, nada que substitua os estrangeirismos, pelo menos neste campo.

Impossível imaginar de onde veio esse uso de it: do inglês é que não foi. Provavelmente a pessoa que pela primeira vez usou esta expressão em português traduziiu ao pé da letra “she has it”, que significa “ela tem”. Virou “ela tem it”. Mais uma vez vamos ao Aurélio: “it. [Inglês], [gíria], substantivo masculino, magnetismo pessoal, encanto”. Este significado jamais ocorreu aos organizadores dos dicionários ingleses: it, em inglês, significa muita coisa (o verbete ocupa mais de uma página no dicionário), mas decididamente não é sinônimo de glamour. Numa construção do tipo “she has it”, o Oxford Dictionary define o uso de it como “vague object, with transitive verbs”. Vague object, “objeto vago”, é figura gramatical inexistente em português. Temos objeto direto e objeto indireto, temos sujeito oculto, mas objeto vago não temos. E, por isso mesmo, a expressão “she has it” é intraduzível.

Voltemos ao glamour. Se os escoceses antigos tivessem com relação aos estrangeirismos os mesmos pruridos que tem o deputado Rebelo, a palavra não existiria. Porque ela chegou à ilha através do... latim! Traduzindo diretamente do Webster´s Word Histories:


“Glamour - Na antigüidade clássica, os ancestrais gregos e latinos da palavra inglesa grammar eram usados não só para indicar o estudo da linguagem mas também o estudo da literatura em seu sentido mais amplo. No período medieval, o significado da palavra latina grammatica e de seus derivados foi ampliado para assumir o significado de aprendizado, de um modo geral. Já que todo aprendizado era feito numa linguagem que a população iletrada não falava nem compreendia, acreditava-se que assuntos como magia e astrologia deveriamser incluídos nesse sentido mais amplo de grammatica. Os eruditos eram vistos com uma mescla de respeito e desconfiança pelos outros homens, posição que certamente tornou mais plausível às platéias dos teatros o comportamento do Dr. Fausto, de Christopher Marlowe, e de Roger Bacon, de Robert Greene, personagens que lidavam com o demônio e dominavam a magia negra.A conexão entre gramática e magia aparece em diversas línguas e, na Escócia, por volta do século XVIII, a forma grammar foi alterada para glamer ou glamour,com o significado de feitiço ou encantamento. Ao difundir-se o uso de glamour, a palavrapassou a significar “uma atração ilusória, misteriosa e excitante, que estimula aimaginação e nos atrai pelo inconvencional, o inesperado, o exótico”. Hoje o significado é simplesmente o de “uma fascinante capacidade pessoal de atrair”.


Se os escoceses tivessem pensado em multar quem usasse palavras estrangeiras (latinas!), nós hoje nem teríamos como designar essa fascinante capacidade de atração.

Observo que mesmo nos filmes americanos a palavra glamour é freqüentemente pronunciada como se rimasse com l’amour, em geral por algum personagem caricatural, acompanhada de floreios de mão. Os próprios anglo-saxões esquecem-se de que a palavra é inglesa: ela tem cara de francesa. Enquanto charm, palavra inglesa de origem francesa, foi adotada pelos ingleses com o significado, segundo o Oxford, de “objeto que tem poder oculto de atrair amor ou admiração; quinquilharia usada como amuleto”. Como verbo transitivo, to charm significa “sujeitar a um feitiço, enfeitiçar, proteger por magia”.

Nos dicionários franceses de 40 anos atrás a palavra glamour não aparece. Nos atuais, aparece em alguns como sendo de origem inglesa. Noutros, não existe de vez. Para os sãotomés da vida, sugiro testar: http://www.cnrtl.fr/definition/charme . Deixei aqui o link para "charme". Tentem encontrar o significado de qualquer palavra francesa: maison, galette, énigmatique.  Qualquer uma. Agora, tentem encontrar o significado de "glamour".


Os franceses, portanto, pelo menos, sabem que a palavra não lhes pertence.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Vida de policial é dura...

VIDA DE POLICIAL É DURA…


Na Ayrton Senna, de madrugada, um policial vê um Jaguar dando um cavalo de pau. Segue o carro, faz parar, e vê que a motorista é uma mulher linda e perfumada.

– Boa noite. Vou ter que multar a senhora por direção perigosa. Posso ver sua carteira de habilitação?
– Perdi no ano passado. Foi uma injustiça! Eu tinha tomado só umas tacinhas de champagne.
– Sei... Documentos do veículo, por favor.
– Olha, se você quer saber, esse carro nem é meu.
– Não é seu...?
– Não! O meu é muito mais legal.
– E de quem é?
– Sei lá! Como que eu vou saber? Não acharam meu carro na saída da balada, então eu peguei o melhorzinho.
– A senhora roubou este veículo?
– Claro que não! Eu tenho cara de ladra? Quando acharem meu carro, eu devolvo este! É questão de justiça. O senhor entende alguma coisa de justiça?
– Tá, tá... E quem é o dono deste veículo?

Ela tem um acesso de riso:
– Abre o porta-malas que você vai ver quem é o "dono deste veículo”...

O policial pega o rádio e chama reforços. Em 5 minutos, chegam mais 2 carros da Polícia Rodoviária. Um oficial tira a arma do coldre e se aproxima do Jaguar.

– Senhora, por favor, saia do veículo.

Ela sai.

– Por favor, senhora, apóie as mãos no carro.

Ela obedece, protestando:

– O senhor é maluco?

Ele pede que uma policial reviste a motorista.

– Vocês não podem fazer isso! Do que que estão me acusando?
– Por enquanto, de nada... A senhora é apenas suspeita de ter assassinado o proprietário deste veículo.
– Hein? Que proprietário? O carro é meu!
– A senhora pode abrir o porta-malas, por favor?

Ela abre e o policial vê que não há nada lá dentro. Intrigado, pede os documentos do carro. A mulher mergulha na bolsa Hermés e tira um lenço de seda Chanel, uma caixa de óculos escuros Fendi, um batom Dior, uma escovinha Prada, quatro telefones celulares e outras quinquilharias. Por fim encontra os documentos e entrega, de mau-humor.

O policial, desconcertado, devolve os documentos e pede a habilitação. Ela fuça mais um pouco e encontra a carteira. O oficial examina, checa a data de validade, comunica-se com a Central. Por fim pede desculpas à perua.

– Eu tinha sido informado de que sua habilitação estava suspensa! –, ele explica.
– Habilitação suspensa? Só falta agora dizerem que eu tava dando cavalo de pau na estrada!

sábado, 4 de junho de 2011

"Os incomodados que se mudem"?


Íamos almoçar no La Gália, ontem: pratos maravilhosos, música sempre boa, às vezes ao vivo. (Não adianta ter comida boa com música ruim, né? Li que o atual “melhor restaurante do mundo”, um dinamarquês, não tem música. Isso é aceitável, claro. Inda mais num internacionalíssimo que corre o risco de tocar o que algum estrangeiro detesta.)

Sentamos na varanda. Procurei a mesa mais distante da jovem família composta por pai, mãe e bebê, que estava junto à entrada. Pratos gauleses e bebês raramente são boa companhia uns para os outros.

Veio o cardápio e, enquanto líamos, percebi que o problema não seria a criança, mas a mãe. Começou a cantar, suavemente mas em alto e mau som, com voz nasalada, feliz como uma professora de maternal tentando animar a garotada. Ou como se estivesse em casa, dando papinha pro nenê. Que, claro, era exatamente o que ela estava fazendo.

“Maááá-riâna conta u-hu-hum!
Mariana conta um!
É um, é um, É um, é Ana
Viva Mariana! Viva Mariana!”

Foi-se a primeira colherada. O que é mesmo que estão tocando nas caixas de som do restaurante? Qualquer coisa que parecia muito bonita, nos intervalos da canção infantil, mas que era Impossível ouvir. O violão do Járis? Acho que era.

“Maááá-riãna conta do-ho-hôis
Mariana conta dois
É dois, é um, é dois, é Ana
Viva Mariana! Viva Mariana!”

A baby engoliu a segunda colherada.

Mááa-riaÃna conta TRE-e-êis
Mariana conta três
É três, é dois, é um, é dois, é três, é
Ana
Viva Mariana! Viva Mariana!

Mariana conta qua-a-trô”

Céus, até quanto ela vai contar?? Eu não conseguia me concentrar no cardápio.

Chegou um casal com outra criança e a mãe da Mariana se animou. Ela era a estrela, a grande atração da varanda, já que ninguém conseguia conversar e, portanto, todos olhavam para ela. “Olha, filhinha, outro nenê! Você viu? Um amiguinho!” Etc, etc, gushing all over the baby. Ai-ai... Pelo menos parou de cantar, o que já seria uma grande coisa se continuasse assim.

Mas não! Quando o outro casal entrou — não ficaram na varanda — a mãe da Mááá-riâ-na recomeçou a contar. A partir do “um”!

Arghh!! O pai, coitado, quieto. Será que não tem vontade de conversar um pouco com a mulher dele? Poxa, moça. Não dá pra ignorar o marido desse jeito! O que vejo de mães que esquecem de continuar sendo mulheres...

Decidimos ir embora. Ao passar pela mesa da jovem família, eu disse, cheia de reticências, à mãe do trio: “Ai, mocinha... viemos aqui por causa da boa música... Muito obrigada!”. E ela, ao se recuperar da surpresa, enquanto nos afastávamos pela rampa de madeira, disparou: ‘De nada! Tem muito restaurante por aí pra vocês irem!”

Todos os adeptos da máxima “os incomodados que se mudem” têm algo em comum: são incapazes de admitir que pisaram na bola.

Lembrei de um adolescente gordo que apareceu no Fantástico, numa matéria sobre problemas de convivência nos condomínios. O sujeito tocava bateria no quarto e incomodava a todos os vizinhos. Quando a repórter perguntou a ele: ”O que você gostaria de pedir aos outros moradores?” − evidentemente esperando ouvir “Desculpas”, o que ele disse foi: “Que comprem fones de ouvido!”.

Os adeptos de “os incomodados que se mudem” não são os mesmos que seguem a regra “a liberdade de cada um vai só até onde afeta a liberdade dos outros” − frase igualmente manjada, mas mais sensata, pelo menos para promover a convivência pacífica entre os humanos, que são naturalmente egoístas.

Almoçamos no Villagio Italia, também muito bom, ali do lado, onde até mesmo conseguimos comer javali. Não o stinco, que no La Gália é o melhor do mundo, mas um bom javali assado, com molho espesso, batatas, arroz e brócolis. Acompanhado por lindas canções tradicionais italianas da década de 1970: as melhores.

Eu gostaria de saber se a mãe da Mariana continuou cantando, incomodando os outros vizinhos de mesa, ou se criou vergonha. Nós pudemos ir embora, já que ainda não tínhamos feito os pedidos. Mas quem já estava no meio da refeição não tinha como escapar daquilo.

domingo, 24 de abril de 2011

Naming

Duas lojas de roupas femininas em "tamanho grandes" anunciam no jornal aos domingos: uma se chama Spampy, a outra Paminy. Concluo que há algo no som "pam" q transmite a ideia de 'mulher grande'. Sem desfazer das muitas Pams jovens e esguias q conheço ( mil perdões, gurias! Não resisti a postar essa constatação!).


Existe, sim, um poder no som das sílabas, ou dos grupos de consoantes. Outro dia, no Shopping Eldorado, procurando a Traxart -- que tem os melhores patins no Brasi -- percebi que muitas marcas ligadas a esporte, movimento, juvrntude, fun de um modo geral, têm nomes que começam com "tr". Track and Field, que é brasileira, apesar de hoje ter loja nos EUA; Trilha Mix; Trend's. Lembrei ainda da Tryon e da Triton. Certamente o som "tr" faz pensar em dinâmica, em agitação.

(sobre "Pam": lembrei q minha mãe chamava de "pampã" aquilo a que todos chamam "bunda" no Brasil. "Olha q moça pampanzuda", dizia, ao ver alguma mulher de formas... calipígias.)

sábado, 23 de abril de 2011

Clichês, lugares-comuns, o Guroogle e a Matemática

Há clichês e clichês, diria o conselheiro Acácio. Ontem me debati com 'de puro prazer'. Consultei o Guroogle: "885.000", ele sussurrou, em 0,30 segundos.

Não consegui outro jeito de dizer aquilo, a não ser, talvez, "por puro prazer". Um clichê que significa exatamente aquilo q as palavras dizem é bem diferente(1) de coisas como "calor senegalesco", "sol inclemente", "fila quilométrica" e outros que usam alguma figura de linguagem -- que certamente foram muito originais e adequados ao ser criados por algum gênio das palavras (2).

Enfim: já q é impossível evitá-los, pelo menos vamos preferir os mais raros. E inventar alguns.

(Pensei que tivesse inventado a palavra "Guroogle": consultei-o. Há 77.

Desses, só 7 estão em sites em português: tá ótimo.! "Praticamente zero", suspiraria o conselheiro Acácio. (3)
Para ilustrar: 77 é 0,0087005649717514124293785310734463 por cento de 885.000. Pouco mais de 0,0087%!
E 7 é menos de 10% disso. Tá de bom tamanho.)



1 - 8.110.000 referências no Google para "é bem diferente"
2 - 8.710 gênios das palavras....
3 - há 347.000 "praticamente zero"
4 - 3.040.000 "tá de bom tamanho"

sexta-feira, 18 de março de 2011

Quando é correto o uso de "ir+estar+gerúndio"

Caímos num mundo que parece considerar errado o uso de gerúndio, sempre, em qualquer situação. Qualquer dia desses, em vez de "estou almoçando", diremos "estou a almoçar"....

Começou com as secretárias que dizem “vou estar agendando uma reunião para o senhor”, dos atendentes de call-center que, ao transferir uma ligação, dizem “vamos estar transferindo”. Talvez tudo se tenha originado de traduções do inglês: “He’ll be calling you presently” (arrá! Vale a pena debater também esta palavra: presently, que não significa “presentemente”). Daí a coisa se difundiu, ok, principalmente entre quem tem menos instrução e achou bonito esse jeito importante de declarar o que se vai fazer (ou o que se "vai estar fazendo").

Aí, as empresas passssaram a contratar professores de Comunicação para treinar seus funcionários, o que os levou à atitude oposta: para não errar, passam a jamais usar gerúndio, mesmo quando seria o ideal!

Algumas pessoas um pouco menos escaldadas declaram que usar gerúndio só não é correto junto com “vou estar”, “iremos estar” e outras conjugações do verbo “ir + estar”. Só que, até mesmo nessas situações, pode ser correto, sim, usar a escorregadia construção.

De vez em quando a gente topa com um bom exemplo. No Estadão de sábado passado (12/3/2011), na coluna C2+m/Ouvido Absoluto, em matéria assinada por Lucio Ribeiro &¨Indie (que bom encontrar Lucio escrito sem acento, contrariamente às recomendações de muitos manuais de redação!) sobre a banda Vaccines, encontra-se a frase: “Daqui a algumas horas, mais precisamente na segunda-feira de manhã, as lojas de discos do Reino Unido vão estar começando a vender o álbum”. Perfeito! É assim mesmo que se deve dizer. E, claro, escrever.

Por que neste caso “ir+ estar + gerúndio” é correto e noutros não? Simplesmente, porque isto se refere a uma ação que acontecerá em um momento preciso no futuro. É pra isso que serve o gerúndio: para indicar uma ação em andamento, o que só pode ocorrer num instante definido. “Agora estou jantando com um amigo”, ou “amanhã a esta hora vou estar jantando com ele”. Mas não “todos os dias vou estar jantando com ele”. Aí, tem que ser mesmo “Vou jantar com ele todos os dias”.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Resgate



Esta cidade que pertence aos carros,
será possível amá-la ainda, amá-la
como quem ama a um filho que se desviou,
a uma querida irmã extraviada?

Minha cidade mãe desnorteada,
que parece ter perdido o seu sudeste:
que pólo magnético é este,
que a faz tão atraente
para tanta gente?

Minha querida desorientada!

Minha cidade norte e oriente,
que bandeirantes tão intimidados
não te reconquistamos,
não tomamos posse,
não vimos desbravar-te?

Minha cidade enchente;
vêm de toda parte
os que te entopem as veias,
que te invadem
sem te amar;
os que te bebem,
te devoram,
que destroem tua arte,
os que te exaurem, jurando
não poder suportar-te
nem mais um dia: precisam
fugir de ti, minha amada.

E vão-se, os bárbaros, a cada
pequena oportunidade.

Escoam-se pelas estradas,
estrangulam-nas,
mas temporariamente partem,
os não-amantes da cidade.

É quando quem te ama,
teus filhos e imigrantes,
pode reencontrar-te
como antes:
tuas lânguidas ruas,
teus bosques suaves,
teus prédios antigos,
tua maravilhosa nova arquitetura.

E assim te sei, Cidade,
ainda a mãe mais pura

apesar de tudo que te invade