O fato é que, em algum momento da luta entre as duas
tribos, as omas se extinguiram, desapareceram da face do planeta. Deviam ser
frágeis demais, etéreas, delicadas. Com certeza é da lembrança atávica das omas
que se originaram certas figuras da mitologia grega: as sílfides, as ninfas, as
nereidas.
Naturalmente, esse processo de extinção fez aumentar
a rivalidade entre as tribos. Sem suas fêmeas, os machos da tribo das omas se
tornaram mais agressivos.
Em toda parte, os mulhos foram sendo extintos por
esses machos da tribo inimiga. Simples conseqüência da seleção natural, da lei
da sobrevivência do mais forte.
E, durante alguns anos, os sobreviventes de ambas as
tribos se examinaram desconfiadamente. Por fim, concluíram que teriam que se
ajustar uns aos outros, ou simplesmente deixar de se reproduzir.
Afinal, não existem mulas? Resultado do cruzamento
entre jumento e égua, ou entre cavalo e jumenta, as mulas são estéreis. Mas não
foi isso que aconteceu neste caso, como resultado do cruzamento entre as fêmeas
de uma espécie e os machos de outra: foi como se, em vez de um produto híbrido,
o resultado desse cruzamento simplesmente produzisse novos espécimes iguais ao
pai ou à mãe, perfeitamente sexuados e capazes de reprodução ad infinitum.
Sem suas suaves omas, os homens vêm há séculos em
busca da companheira perfeita.
Criadas para serem servidas e protegidas por seus
dóceis mulhos, as mulheres não se conformam em se submeter aos homens,
fisicamente mais fortes.
Condenados à coexistência, homens e mulheres,
predadores por natureza, digladiam-se tentando inutilmente chegar ao
entendimento.
Quem pode entender uma mulher?
Quem pode entender um homem?
Quem pode compreender essa coisa fascinante, o sexo
oposto? Quem pode compreender essas criaturas incompreensíveis?
No princípio havia homens e omas, mulheres e mulhos.
É a única explicação possível: que homens e mulheres
não sejam macho e fêmea do mesmo bicho.